Relações familiares estão sendo fortalecidas graças à dança espanhola. No Café Tablao, em Campinas, referência estadual em dança, canto e guitarra flamenca, pais e filhas dividem as aulas, as oficinas e as apresentações em shows. Cerca de 30% dos alunos da escola têm relações familiares.

Quando a veia artística também se revela na descendência, os pais se sentem orgulhosos em poder dividir o talento com os filhos. Se entre as celebridades não faltam exemplos de quem se espelhou nos pais, com o flamenco – arte popular do Sul da Espanha que se manifesta por meio da dança, canto e som da guitarra – não é diferente.

Em Campinas, são vários os pais que se renderam ao flamenco e compartilham com suas filhas o amor, o talento e a paixão por essa arte no Café Tablao (Av. Jesuíno Marcondes Machado, 1063, Nova Campinas).

Pais & filhas

Aluno do curso avançado de dança flamenca, o administrador de empresas Elthon Garcia, 43 anos, revela ter vencido várias barreiras, principalmente a timidez, antes de abraçar o flamenco como hobby. Segundo ele, em mais de dez anos de envolvimento com dança, seu estilo de vida passou por uma revolução e hoje compartilha o amor aos passos firmes do flamenco com a família, amigos e nas apresentações.

Como pai, ele também afirma o papel importante dessa arte no relacionamento com a filha Luísa, 10 anos. Elthon lembra que a menina demonstrou interesse pelo flamenco logo nos primeiros anos de vida, reforçando a sua crença sobre o talento ser algo nato.

Para ele, a prática aperfeiçoa aquilo que a pessoa traz no sangue. Quando a Luísa era muito pequena, gostava de ser ninada ao som de sevillanas. Depois, aguardava no bebê-conforto enquanto a mãe fazia aulas de dança, agora suspensas temporariamente. Foi só uma questão de tempo para o flamenco unir pai e filha, inicialmente em aulas semanais.

“A música alegra. Se meu pai não dançasse, eu o convenceria”, diz a pequena bailaora. Elthon pratica aulas há 11 anos e admira a facilidade de aprendizado de Luísa, que já domina danças complexas. A destreza da menina possibilitou que eles se apresentassem juntos na escola e em eventos.

Ao som da guitarra

Se Elthon encantou a filha ensinando a ela os passos no tablao, o guitarrista flamenco Breno Lopes, de 42 anos, atraiu a filha com a sua música. Apaixonado por arte, desde muito jovem cursou Música Popular na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e, ao longo da carreira, se dedica ao aperfeiçoamento da guitarra na cultura espanhola.

Tamanha dedicação o fez cruzar o Atlântico para intensificar suas pesquisas em terras espanholas, berço do flamenco. Ao longo de 22 anos de carreira, Breno já percorreu várias academias de dança e tocou em muitos palcos. Sua paixão contagia. Com a filha, não seria diferente. Alice, 8 anos, está dando os primeiros passos nessa arte, dançando na escola onde o pai trabalha.

O músico logo notou que a menina levava jeito para a dança. “Ela tem a postura e a confiança que o flamengo exige. Se ela decidir seguir carreira, terá meu total apoio”, afirma.

Com as filhas e netas

Nunca é tarde para se deixar levar pela arte. Aos 83 anos, o descendente de espanhóis Christovam Padilha Júnior curte a paixão pela arte flamenca nas aulas do Café Tablao, academia onde se reconectou às raízes. A arte sempre esteve presente na vida de Santareño – nome artístico que escolheu.

Quando jovem, ele gostava de tocar violão, mas os compromissos profissionais e a responsabilidade com a família acabaram prevalecendo e seu lado artístico acabou em segundo plano, adormecido. Após a aposentadoria, e com pouco mais de 60 anos, Christovam decidiu que era o momento de uma nova entrega à arte.

Ele cursou espanhol e violão erudito na Faculdade de Valinhos, cidade onde também aperfeiçoa outras manifestações artísticas no Centro Cultural. “Sempre gostei de arte. Mas estava tudo adormecido”, conta. Entre suas múltiplas faces artísticas, Santareño canta, dança e, vez ou outra, toca violão ao lado das filhas e netas no Café Tablao, local onde cursa flamenco há três anos.

Santareño gosta de estar trajado adequadamente, mesmo nas aulas. Ele já atingiu o nível intermediário de dança sevillana, um degrau antes do domínio pleno do flamenco. Tanto entusiasmo contagiou as filhas Maria José Padilha, 63 anos, e Ana Maria Padilha, 59.  Maria José pratica flamenco há dois anos e contou com o pai para reforçar os ensaios durante seis meses antes de subir em um palco pela primeira vez, no ano passado, em um show da escola no Teatro Iguatemi.

Apesar de não ter feito dupla com a filha, Santareño e Maria José se apresentaram no mesmo grupo. “Foi maravilhoso, um momento único. Estou me redescobrindo na dança”, lembra Maria José. Ana Maria não subiu ao palco, mas fez coro na plateia com o restante da família, que não perde as apresentações do patriarca.

Santareño acredita que a aptidão para a dança e a música esteja no sangue. Além das duas filhas iniciantes na dança, seu caçula, José Luís, é músico e suas filhas gêmeas – netas de Santareño – por intermédio do avô, também começaram aulas de flamenco.  Elas contam com o olhar atento e detalhista do vovô para vencer a complexidade da dança.

Homens no tablao

“No começo era mais difícil a participação masculina. Em 15 anos de mercado, o Café Tablao formou seis professores e dezenas de dançarinos que praticam a dança flamenca por hobby, por puro deleite. Hoje temos sete alunos, entre maridos e pais de alunas em nossas aulas”, conta Karina Maganha, diretora artística do Café Tablao.

Sobre os laços familiares que unem parte dos bailaores, Karina lembra que o flamenco é uma das mais democráticas manifestações artísticas, pois não exige biotipo ideal ou idade para praticá-lo. “Eu estimo que pelo menos 30% dos frequentadores do Café Tablao têm laços familiares. Afinal, a família e a amizade são a essência do flamenco, que tem suas origens em um povo sofrido que compartilha dores e alegrias”, diz.

 

Informações:

Café Tablao

Av. Jesuíno Marcondes Machado, 1063, Nova Campinas

Campinas -SP

Telefone: (19) 99335-0838 (whatsapp)

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